12.19.2005

A página da Mafalda

Recordações do Natal - III - Consoada
Lá em casa a democracia reina! Ganha sempre a maioria! (Curiosamente somos sempre 3 contra 1!!!) E como vivemos sob um tecto justo e democrático, o nosso Natal também sempre o foi! Ceia de Natal com a família materna; Almoço de Natal com a família Paterna! Começando pelo princípio: Ceia de Natal! Desde sempre que a 23, o mais tardar a 24, rumávamos os 4 para a terra dos meus avós. Dava-me sempre a sensação que vivia ao contrário de toda a gente. É que a maioria das pessoas vive num apartamento na "cidade" e vai passar o Natal na vivenda de família no "campo". Eu não... eu saía da vivenda no "campo", para vir para o apartamento dos arrabaldes da capital... Para não atrapalharmos a azáfama da preparação da ceia, do esconder dos presentes e não andarmos todos a tropeçar uns nos outros no espaçoso T3 dos meus avós, havia uma bela tradição familiar de que tenho imensas saudades! Todos os Natais os meus pais agarravam em mim e na minha irmã, juntavam-nos mais 3 ou 4 primos e traziam-nos a ver "Os 101 Dalmatas", o "Papuça&Dentuça", ou o filme Natalício que estivesse em exibição, primeiro no Tivoli, mais tarde nas "Amoreiras". (Pai, ainda nunca vi o "Marcelino Pão e Vinho" que dava sempre a apresentação no Tivoli e pelo qual eu devia derramar mais lágrimas que as permitidas por lei...). Era a verdadeira excursão à cidade e eu adorava! Finalmente, a Ceia de Natal era passada na casa da minha Bisavó. (Não era apartamento, mas não era maior...). A casa da minha Bisavó Ana (onde ainda me lembro de ver a minha trisavó, carinhosamente chamada de Avó Velhinha), enchia-se com quase todos os 7 filhos (irmãos da minha Avó), e as dezenas de netos (primos da minha mãe, embora alguns mais novos que eu!), e as duas bisnetas, moi même and my sister! Apesar de na maioria sermos miúdos, éramos sempre demais para aquele espaço e passava a noite toda ao colo do meu pai, com ele a tapar-me os ouvidos para não ouvir as "asneiras" que os tios da minha mãe diziam! Às 23H deixávamos os homens em casa a degladiarem-se pelo futebol e pela política, e íamos (mulheres e crianças sem direito a voto) à Missa do Galo, rapar um briol desgraçado, ver as últimas modas das "tias" de trazer por casa, e ouvir o desgraçado do Gentil berrar as canções... Só finda a Missa é que regressávamos para os presentes de Natal, se bem que os melhores estavam na chaminé dos meus Avós, pelo que eu passava o resto da noite a fingir birras de sono para irmos depressa para casa deles. Antes de sairmos para a Consoada, deixávamos sempre o sapatinho em cima do fogão no apartamento da minha avó, onde depois íamos encontrar os presentes (lá colocados pelo meu pai e avô enquanto estávamos na Missa do Galo), deixados pelo Menino Jesus. A minha avó é uma pessoa muito devota e sempre nos falou no Menino Jesus, pelo que não me lembro de ouvir histórias do Pai Natal nem da chaminé (num 4º andar é difícil!). A noite acabava com a abertura dos presentes. Alegria para uns, desapontamento para outros... mas isso fica para outro dia!
MafTal

2 comentários:

Anónimo disse...

Belíssima descrição. Incrível como há tanto em comum nas vivências de cada um de nós. É sempre agradável reviver estes momentos mágicos.

Anónimo disse...

Estou arrasado!
Gostava de ter um motivo para criticar, para dizer mal, mas não consigo. (Esta do não consigo, fez-me agora lembrar também outras ocasiões, quando uma menina ternurenta mas a fazer "beicinho", em dificuldades, às vezes até só inventadas, dizia, muito piegas: "eu não conchigo, avô, eu não conchigo..."
Bons tempos, realmente e que bom que é poder recordá-los agora, mas, principalmente, ter quem nos faça recordá-los assim!... Ai Mafalda, Mafalda e como tu sabes recordá-los tão bem!... Com tantos pormenores, com tantas referências e algumas delas que nos tocam tão fundo.
Eu bem quero não "lacrimejar", até porque a leveza das tuas descrições não o justifica. Mas que queres? É mais forte do que eu ou do que a minha vontade...
Talvez até já seja da idade !!...
Toma lá beijocas.