2.05.2006

A página da Mafalda

Hoje fui cortar o cabelo... correu bem! Mas recordei-me da última vez que o tinha feito... correu tão mal, que quando cheguei ao escritório, precisei de desabafar, e enviei o seguinte mail para os meus amigos:

29/09/05
Não sei como é convosco, mas cada vez que vou ao cabeleireiro sinto-me uma autêntica "patinha feia"!

Como ando numa espécie de "renascimento interior" a encarar uma nova fase da minha vida que espero que me traga muitas alegrias, decidi dar um corte no cabelo para me sentir mais leve e elevar o ego!

Mas sempre que entro num cabeleireiro, quer seja "de bairro" ou salão especializado, sinto-me sempre a mulher mais feia do mundo, com o cabelo estragado e uma aparência horrível.

Nos cabeleireiros de bairro, às vezes "levo nas orelhas": "Mafalda, tens que tratar melhor o cabelo, tens que vir mais vezes cortar estas pontas estragadas, devias usar não sei o quê...", mas também levo sempre alguns elogios: "Ficas tão gira assim! A tua côr tá tão bonita! Tás com tanto brilho no cabelo!", que me fazem sair de lá com o ego bem lá em cima!!!

Mas desta vez não tinha tempo para isso e como só tinha a hora de almoço escolhi um "Salão", que apesar de saber que seria mais caro, achei que valeria a pena pelo sentimento de "beleza" que me poderia proporcionar quando saísse.

Acho que este tipo de "Salões" são autênticas hierarquias de uma rigidez impenetrável. Existem uma série de funções completamente distintas e nada de flexibilidade e polivalência no trabalho!

Alguém só atende telefones, faz marcações e recebe pagamentos. Outra só lava cabeças (a massagem foi o melhor de tudo!), outras só cortam e outras ainda, só secam cabelos! Fora aquelas que só fazem manicura e as outras das depilações!
Quem entra num destes salões, passa invariavelmente por uma série de cadeiras e por mãos a dobrar. Parte do percurso é feito com uma toalha enrolada na cabeça, em que nos sentimos horríveis, com medo de ver o que sairá lá de baixo!

Não gosto de sítios assim e hoje, enquanto lá estive, senti-me a mulher mais estúpida à face da Terra.

Não percebo o poder que meia-dúzia de mulheres com penteados e cores esquesitérrimas têm sobre mim, mas a verdade é que me sentia tão diminuída, que não era capaz de dar uma resposta coerente nem articular uma frase com pés e cabeça.

Para já irritou-me as "9 horas" com que me estavam a tratar, oferecendo-me café ou chá, revistas, perguntando se queria pôr creme amaciador, espuma, gel... enfim... só o facto de me terem tratado por Dona Mafalda deu-me logo vontade de sair a correr, mas apenas balbuciei, Por favor não me chame Dona que eu não sou velha... O resto das perguntas foram respondidas com monossílabos em que o Não ganhou terreno e sorrisos tímidos de quem de facto se sentia extremamente desconfortável.
Foi-me mostrado o champô, a espuma, a tesoura, o cabelo que ia fora... e eu não queria saber nada daquilo, só queria que mo cortassem escadeado e sair de lá com uns caracóis soltos e fantásticos!

Finalmente, quando já vislumbrava os meus caracóis e os imaginava a esvoaçarem dali pra fora, comecei a ganhar de novo a minha auto-confiança e a sentir-me apenas irritada comigo própria por me ter estado a sentir tão diminuída aquele tempo todo. Mas a rapariga continuava chata e enquanto me explicava que tinha usado uma espuma xpto que não deixava o cabelo rígido como as espumas normais eu puxei de toda a minha coragem e altivez e enfrentei-a: A que eu uso também é assim!, "-Ah sim? Qual é?" -Não me lembro do nome, mas trouxe-ma a minha mãe agora de Itália!
A rapariga calou-se. Eu olhei-me ao espelho linda e maravilhosa e sorri malvadamente.
Levantei-me e paguei a conta (astronómica!) sem hesitar e com o mesmo sorriso.

Saberia que havia de ter algum castigo por ter descarregado na rapariga as minhas frustrações ridículas e infundadas (porque insisto em esquecer-me que sou linda e maravilhosa todos os dias!), e cheguei ao carro completamente despenteada por um vento enviado dos céus a pedido da rapariga, claro...

A minha vaidade durou apenas 2 minutos... e agora aqui estou com o cabelo amarrado em frente do computador a contar-vos isto e a sentir-me realmente estúpida por tudo........

Valeu o desabafo!
MafTal

3 comentários:

João Fialho disse...

Excelente.

Pois no meu caso, quando vou á cabeleireira (sim, porque eu também vou a cabeleireira, reconheço) ainda nunca me senti assim.

Para mim, aquilo é do mais fácil que há. E quem me conhece pessoalmente já está a perceber porquê. É que abunda a falta de cabelo. Pois é. Por isso é que, normalmente demora só uns vinte minutos. Bem, se calhar e melhor não exagerar... demora só quinze.

Não há cá lavagens nem Shampoos ou outros produtos sejam lá o que forem. Saio dali, vou tomar um duche e até para o mês que vem. Ou para o outro a seguir, depende.

Gostei imenso do texto deste post, muito igual ao que já nos habituou a Mafalda.

Fico desde já à espera do próximo.

Saúde.

Anónimo disse...

Ora cá está. Um génio da arte de saber pensar e de saber transcrever esses mesmos pensamentos.

Maravilhoso o texto e apropriada a forma como esta crónica se pode adaptar a uma divertida conversa de café, entre amigos.

Anónimo disse...

Eu cá caracóis só gosto mesmo é no prato.

Mas a visita a uma cabeleireira é sempre um acontecimento e é claro que todo o ritual á volta do mesmo quase que se compára a certas cerimónias religiosas em países de 3 Mundo, é o ofercer o chá, a escolha dos shampoos, amaciador, etc, etc.


E depois não querem largar o guito? Ah pois é.

Até á proxima