12.12.2005

Homenagem ao nosso Nobel

Já passaram 7 anos desde a atribuição do Nobel da Literatura ao Saramago!
Lembro-me como se fosse ontem…
Tinha sido um dia normal de aulas na Faculdade, tinha tido ensaio do grupo de teatro e depois tínhamos ido beber um copo no Bairro Alto. Eram duas e tal da manhã, ia de boleia para casa com um amigo, quando começámos a ver nas ruas, nos postes de electricidade, cartazes a dizerem “Parabéns Saramago”. Parámos o carro na Rua Braamcamp, saímos para ver os cartazes e começámos aos pulos, histéricos por nos apercebermos do significado do cartaz!!!!!! Pela primeira vez um escritor português era distinguido com o galardão, e logo o meu escritor favorito!!!
Desde pequena que me lembro dos livros dele (os da Caminho, cremes com as letras pretas), todos alinhadinhos na estante da Literatura Portuguesa, cá em casa. (O meu pai tem tantos livros que os arrumámos por zonas geográficas/nacionalidades e por ordem alfabética, senão nunca mais os achamos!) Lembro-me que todos os Natais o meu pai recebia um livro dele como prenda, e ficava sempre muito contente. Depois via-o a ler e a emprestá-lo à minha avó e os dois a falarem sobre o livro. O meu pai sempre foi o meu conselheiro literário. Ele é que escolhia os livros que eu deveria ler, e eu estava sempre a pedir-lhe um do Saramago e ele a dizer-me que eu ainda não o ia perceber nem conseguir ler… Adoro desafios e quanto mais ele me dizia isto, mais curiosidade eu tinha.
Um dia, agarrei-me ao Memorial do Convento, que é o único que não é da edição da Caminho, e como é azul escuro, passa mais despercebido. Li-o de uma ponta à outra num ápice e fiquei fã incondicional… a partir daí o meu pai não teve mais desculpas e foram uns atrás dos outros. O Ano da Morte de Ricardo Reis (talvez o meu favorito!), O Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a Cegueira (de uma genialidade brutal), A Jangada de Pedra, Todos os Nomes, História do Cerco de Lisboa, Levantado do Chão, In Nomine Dei, A Noite, e depois, ao longo destes anos, Objecto Quase, Manual de Pintura e Caligrafia, A Caverna (outro que tá no meu top 10), até ao Homem Duplicado. Também li os seus Cadernos de Lanzarote, curiosamente só até ao ano em que viria a ganhar o Nobel…
Faltam-me ler os livros mais recentes. Estão cá em casa… mas depois do Homem Duplicado decidi acalmar um pouco. Desiludiu-me muito este livro… escrevi sobre ele aqui (http://livroscomletras.weblog.com.pt/arquivo/077144.html).
Mas Saramago, para mim, é um génio literário que idolatrarei sempre!!!
Há cerca de quatro anos, na Feira do Livro, comprei o Manual de Pintura e Caligrafia para ele mo autografar… Foi uma cena tristíssima da minha parte, pois fiquei a tremer perante o Sr., sentindo-me infinitamente insignificante perante aquele Sr. de cabelos brancos que escreve como ninguém… O Sr. perguntou-me o meu nome para autografar o livro e eu fiquei extasiada a olhar para ele, tipo: Ele falou comigo! O José Saramago falou comigo!!! Teve que o meu pai vir em meu auxílio e dizer-lhe o meu nome! Depois a surpresa! O meu apelido é também apelido de Poeta Alentejano, e não é que o génio Saramago conhecia o poeta!!! Acabou por trocar umas ideias com o meu pai, enquanto eu continuava estarrecida a olhar para eles… Quando nos fomos embora é que vi a triste figura que tinha feito e ainda hoje sou gozada cá em casa…
Bem, este post está longuíssimo e isso não é nada habitual por aqui.
Desculpem-me e espero que isso não os impeça de por cá continuarem a passar.
Leiam Saramago porque vale mesmo a pena! Leiam todos e quaisquer livros porque são realmente bons amigos!
E não se esqueçam, que como Saramago escreve no seu O Ano da Morte de Ricardo Reis: «O mundo esquece tanto que nem sequer dá pela falta do que esqueceu.», e há coisas que nunca, nunca devemos esquecer, como os nossos génios!
MafTal

6 comentários:

João Fialho disse...

Se aquele senhor de cabelos brancos escreve, de facto, como ninguém, então eu pergunto-lhe, e a MafTal, escreve como quem?

Faça lá o favor de olhar para a sua própria escrita.. e aproveite esse "dom" que tão bem utilizou este pequeno mas maravilhoso texto.

Eu bem dizia que este blogue iria ser um caso de sucesso.... mas pensava que ainda teria que esperar mais uns dias. Pelos vistos, nem foi preciso aguardar tanto. E ainda bem.

Já agora, por onde é que tem andado a escrever, a espalhar essa sua arte? que é para nós irmos até lá aproveitar.

Não sei se se apercebeu, mas creio bem que, depois desta amostra, ficamos ansiosamente á espera de mais. Pois claro. Aqui para nós, assim baixinho, que ninguém nos ouve, não nos faça esperar muito, sff.

Saúde.

bomdebola disse...

Brilhante... MafTal!

É tão difícil encontrar pessoas assim... bonitas.

Anónimo disse...

às vezes é preciso muito mais do que meia dúzia de palavras para se conseguir explicar ou conhecer uma pessoa... No entanto há pessoas, que pela simples utilização duma vírgula dizem muito daquilo que são. Já te conhecia esta faceta e só posso dizer uma coisa: CONTINUA e nunca pares, Tu e o teu pai.
Infelizmete não tenho o mesmo gosto pela leitura do que tu mas vou tentando encontrá-lo.
Bjoca

Anónimo disse...

Boa tarde!
Agradeço deveras as simpácticas palavras com que me brindaram. Mto, mto obrigada!
Com este incentivo, prometo tentar colaborar aqui mais frequentemente, mas os dias não esticam e infelizmente nem sempre conseguimos fazer tudo aquilo q gostaríamos.
Ao Alentejodive, só lhe posso dizer que escrevia num blog sobre livros com alguns amigos meus, mas também está há muito parado: (www.livroscomletras.weblog.pt).
No seu blog deixei apenas 2 ou 3 comentários sob pseudónimo... Talvez nem me descubra...

Mas ler e escrever são de facto os maiores prazeres que tenho, pelo que, definitivamente, têm que ocupar mais a minha vida!

Mais uma vez, um obrigada a todos e até breve!

Anónimo disse...

Olá MafTal.

Gostei, gostei, gostei! Até os olhos se me humedeceram.

Continua! Tu e o teu Pai não podem nem devem parar.

Este blogue que ele tão bem iniciou e que tão bem tem vindo a administrar, está a ser fantástico pela originalidade e pela oportunidade dos post's, utilizando, na maior parte das vezes, mas com muita habilidade, aquelas "velharias" que afinal são sempre actuais.

Beijocas grandes.

Anónimo disse...

Ao MouTal.

Agora que já nos é possível utilizar também esta caixa de comentários, quero aqui confirmar o que, já pessoalmente, tive oportunidade de te dizer.

Foste feliz na ideia e tens sido ainda mais feliz na forma como a tens vindo a explorar.

Os meus sinceros parabéns e os votos de grande longevidade para o teu blogue. Não podes parar!

Pede também à MafTal que apareça mais vezes.

Prometo colaborar, comentando sempre que possível.

Um grande abraço.